Fresquinho, acabado de chegar...
Não deixe de ouvir aqui, no leitor de áudio do blog da rádio WBGO - estação associada da NPR norte-americana -, o magnífico set gravado ontem à noite no Village Vanguard de Nova Iorque pelo quarteto do brilhante pianista venezuelano Edward Simon.
Para esta actuação no famoso clube nova-iorquino, Edward Simon escolheu para a formação do seu quarteto o contrabaixista Ben Street, o baterista Adam Cruz e, mais importante ainda pelo significado do seu regresso, depois de um acidente que quase impedia a continuação da sua carreira, o saxofonista Mark Turner, um dos mais importantes e decisivos músicos da sua geração.
Um verdadeiro quarteto de luxo!
Os sete magníficos
Neste novo vídeo da série realizada por Bret Primack – aqui apresentada com regularidade – é colocada em destaque uma das efemérides do ano: o 70º. aniversário da criação da Blue Note, uma editora histórica no jazz de todos os tempos.
O vídeo é uma boa oportunidade para ouvirmos um magnífico septeto – The Blue Note 7, um autêntico all-stars com Nicholas Payton (trompete), Ravi Coltrane (sax-tenor), Steve Wilson (sax-alto), Bill Charlap (piano), Peter Bernstein (guitarra), Peter Washington (contrabaixo) e Lewis Nash (bateria e direcção artística) – criado para esta ocasião festiva e que recentemente gravou Mosaic, um álbum que já chegou a Portugal e que constitui uma celebração daquela editora. Além de falarem durante breves momentos sobre o jazz, os músicos atacam um dos originais mais complexos de Thelonius Monk – Criss Cross – e como sabem fazê-lo!
Quando, em 1953, atravessava um dos seus piores períodos de dependência da droga, Miles Davis regressou, durante algum tempo, a East St. Louis para passar uma temporada na propriedade do seu pai que, como se sabe, era dentista e pertencia à burguesia negra local. Ora contece que, depois desta fase de descanso e antes do seu regresso à frenética cena musical de Nova Iorque, Miles passou por uma estação de rádio de East St. Louis, a MXLW, para fazer uma visita a Harry Frost, um dos mais conhecidos apresentadores de jazz, e ao seu programa Fresh Air.
O certo é que, dessa visita, resultou uma das mais raras e longas entrevistas que Miles Davis concedeu nessa época, na qual ele fala sobre a sua carreira, os músicos com quem tocou (nomeadamente Parker e Dizzy) e os discos que gravara até aí, entrevista cuja primeira parte foi agora colocada no blog de uma distribuidora local, a Euclid Records. Para quem conhece a voz rouca , quase inaudível, e a forma um tanto rude pela qual o grande trompetista anos mais tarde enfrentava a imprensa, os microfones e as câmaras, o tom desta entrevista é totalmente oposto e, tal como Joel Shwab sublinha na introdução desse post, a afabilidade da conversa constitui uma verdadeira surpresa.
Foi essa entrevista que agora descobri por puro acaso e cuja audição é um must, embora desde já deva sublinhar a fraca qualidade do som (que provoca algumas passagens menos nítidas e compreensíveis), contrariedade que, no entanto, me não impediu de partilhar convosco a primeira parte deste documento histórico. Tentarei avisar aqui quando for publicada a segunda parte da entrevista mas, se me esquecer, se gostarem (como espero) e se quiserem ouvir o resto, já sabem onde procurar, quiçá daqui a uma semana.
Boa audição!
Pode ouvir aqui, a partir de hoje, o primeiro set gravado ontem (18.02.09) no Village Vanguard de Nova Iorque pelo quinteto de Terence Blanchard (trompete), com Fabian Almazan (piano), Derrick Hodge (contrabaixo), Kendrick Scott (bateria) e ainda Walter Smith (saxofones). Atenção a este último, um caso sério!
A estação de rádio é a nossa já conhecida WBGO (Nova Iorque), uma associada da NPR, a rádio pública norte-americana, e são cinco as peças tocadas neste set de 1h 11m, todas da autoria de Blanchard: Levees, Funeral Dirge, Wandering Wonder, Fred Brown e Bounce, algumas delas estreadas no álbum A Tale of God’s Will (Blue Note), inspirado pelo pós-Katrina em Nova Orleães.
André Fernandes (guitarra)
Mário Laginha (Fender Rhodes, piano)
Bernardo Sassetti (piano, Fender Rhodes)
Nelson Cascais (contrabaixo, baixo)
Alexandre Frazão (bateria)
DJ Ride (scratch)
Grande Auditório da Culturgest
17 de Fevereiro, 2009
Creio que a melhor coisa que pode acontecer a um músico criativo – ainda por cima tendo em palco, a seu lado, outros músicos igualmente criativos – é que o concerto de apresentação (e quantas vezes lançamento) de uma determinada obra discográfica não deixe de fazer transparecer, por um lado, fortes afinidades com o disco que lhe está na base mas, por outro lado, se distancie suficientemente deste. E isto na exacta medida em que o acto de tocar e criar ao vivo – estou a falar de jazz e de música improvisada – pode ser radicalmente diverso daquele que, no recato do estúdio, dá origem àquela obra, um acto igualmente espontâneo, de preferência, mas sem dúvida marcado por componentes bem mais laboratoriais.
E se esta pressuposição é verdadeira, então certamente André Fernandes e seus companheiros de aventura saíram ontem do palco da Culturgest reconfortados com a suprema ventura de o terem conseguido; e porventura conscientes de que, também o público que abandonava o grande auditório ao fim de hora e meia de música boa e forte, dele saía com o “papinho cheio”, depois de assistir ao gozo da partilha musical entre oficiais do mesmo ofício, por vezes em grande forma no seu contributo individual mas claramente apostados na criação de um som colectivo com personalidade própria: a personalidade de quem concebeu e realizou tanto o trabalho de estúdio como a estratégia de palco.
Esta estratégia admitia, por exemplo, que uma peça como Caixa de Madeira – tocada em trio por André Fernandes, Nelson Cascais e Alexandre Frazão – resultasse necessariamente diferente da versão do disco, na qual o guitarrista tem como pares Bernardo Moreira e Marcos Cavaleiro. E pressupunha que o progressivo crescendo originado pela presença simultânea de Bernardo Sassetti (no piano acústico) e de Mário Laginha (no Fender Rhodes) – na forma pela qual O Ar se ergueu e respirou em palco –se transformasse numa atmosfera bem diversa da versão de estúdio (em que apenas participa o primeiro), não em resultado do mero aglomerado sonoro dos dois teclados mas pela manifesta (e feliz) “impossibilidade” de os dois músicos deixarem de interferir e interagir um com o outro, sobretudo quando “puxados” pelos potentes graves da insistente e obsessiva linha de contrabaixo de Cascais.
A este respeito, é interessante constatar como a previsível “embrulhada” que se arriscaria a resultar da justaposição, em algumas das peças, de três instrumentos com amplas potencialidades harmónicas e sónicas (piano acústico, piano eléctrico e guitarra eléctrica) tenha sido aqui totalmente inexistente, o que torna ainda mais inteligente aquela noção de estratégia que presidiu ao concerto da Culturgest.
Num outro plano, talvez nunca até aqui as duas faces do som de André Fernandes e mesmo os dois tipos de articulação técnica inerentes às guitarras eléctrica e acústica tenham resultado tão nítidos como neste concerto (e neste disco), saindo aquela última altamente valorizada (até pela transparente captação de som) na delicadeza de Beijo de Gelo e na transição para Caixa de Madeira ou no imparável solo desta peça.
No campo das incidências rítmicas, a profusão de métricas irregulares subjacentes a algumas das composições de André Fernandes subverteu de forma artificiosa e profunda a expectável sugestão “binária” de uma suposta e directa filiação dessas peças no universo pop-rock, que o guitarrista claramente partilha e se fez ouvir como influência da música urbana envolvente mas em relação ao qual ele faz alternar sensíveis momentos de aproximação e distanciação.
Para tal contribuiram amiúde, sem dúvida, os fortíssimos e insinuantes cambiantes do beat assegurado e desenvolvido por Cascais, Frazão ou Laginha, aos quais se associou, neste concerto, neste disco e neste contexto, a novidade de um manipulador de gira-discos e da electrónica – o scratcher DJ Ride – com as surpreendentes desmultiplicações do tempo a imiscuirem-se nas batidas (então sim, regulares e explicitamente funk) de Alexandre Frazão, por exemplo nas versões empolgantes de Afghan Trouper (original que não pertence ao line up do disco) e Imaginário, que lhe dá o título.
Que o leitor-espectador deste concerto possa agora comparar o que ouviu na Culturgest com o que está no CD é uma possibilidade (e um conselho) que aqui constitui um aliciante desafio.
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Concerto a propósito do lançamento de...
Imaginário
Tone of a Pitch / Dargil
Gravação: 21, 22, 26, 27 de Dezembro, 2008
Timbuktu Studios, Lisboa
(Classificação: 7 / 10)
No fabuloso grupo que Miles Davis trouxe ao I Festival Internacional de Jazz de Cascais, revelava-se na linha da frente Gary Bartz, um saxofonista então desconhecido entre nós e que viria a perfilar-se, nos anos que se seguiram, como um dos mais interessantes músicos de jazz da cena norte-americana, embora raramente lhe tenha sido feita a justiça devida à sua qualidade.
Agora, Bret Primack, em mais um episódio da série de que aqui temos visto alguns episódios, realizou um pequeno vídeo sobre Gary Bartz, no qual (para além de alguns dislates, a não perder, que Primack "apanhou" por tabela a Walter Cronkite...) o músico nos fala dos tempos em que tocou nesse grupo de Miles Davis podendo ainda ver-se, entre outros, excertos de uma actuação que nos deixa de nos recordar (até na postura de Keith Jarrett no Fender Rhodes!) o inesquecível concerto de Novembro de 1971 em Cascais.
Link solidário
O Tempo das Cerejas (novo link)
Links com Jazz
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